"Papá, nos nunca queremos ir embora das pessoas que gostamos,
pois não?"
Hoje decidi escrever porque este foi claramente um dos momentos em que me revi
em ti, filho.
Esta tua pergunta, tão simples e tão bem colocada, trouxe-me à memória esse
exato sentimento que estás a experimentar. Porque o Verão é mesmo assim quando
somos novos. Conhecemos pessoas diferentes, interessantes, com outro ar e uma
vida tão diferente da nossa. Sentimo-nos bem com elas. Quando saem da nossa
vida tão depressa como entraram, sentimo-nos traídos. Porquê? Estava tudo tão
perfeito. Demo-nos bem. Porque é que ela não vive aqui, na casa ao lado da
nossa? Não faz sentido.
"A Suíça é muito longe, papá?", as perguntas sucedem-se a um
ritmo imparável. Não, filho, a Suíça já foi bem mais longe, agora é aqui ao
lado. Agora é tudo aqui ao lado.
Aos 7 anos estás apenas a experimentar uma amizade especial, mas espera pela
adolescência. Aí tudo se complica. Vais viver amores de coração a querer sair
do peito, em apenas 3 dias de sol. E depois ela lá vai embora e tu continuas a
não entender a injustiça. E juram amores eternos, que "11 meses passam a
correr". Sorte a tua que já não vão ser cartas e chamadas para casa, agora
podem fazer zooms e facetimes a toda a hora.
E finalmente, quando quase já se esqueceram um do outro, ela lá aparece. Mas os
teus pais têm outros planos, que em Agosto eles também querem ir de ferias. E
levam-te para umas férias incríveis no sul de Espanha quinze dias (quinze, que
eternidade!), na altura mais interessante do sítio onde vives, quando o paraíso
para ti era ficar sozinho em casa (que até já és crescido e sabes tratar de ti,
dizes tu) e poder passar o Verão a apanhar banhos de sol com a tua amada.
Mas a praia está carregada de miúdas giras e acabas por te divertir, ela
entretanto também já arranjou outro programa e, estranhamente, está tudo bem.
Porque a adolescência é mesmo assim. A vida tem que ser vivida, não vai ficar
ali à nossa espera.
Porque a seguir vem a idade adulta e aí, aí sim. Percebes rapidamente que é
nessa altura que a injustiça é maior. Porque passas quase todo o tempo da tua
vida com pessoas que te são indiferentes, se pudesses escolher seriam outras
completamente diferentes. E sabes o que é pior? Se essas pessoas pudessem,
também te escolhiam a ti. Mas estamos condenados a viver uma vida que "tem
que ser" e a ver os amigos, os nossos, as nossas pessoas, apenas de vez em
quando, em alguns casos muito raramente.
Mas depois alguns de nós, privilegiados como eu, têm filhos incríveis que nos
fazem viver tudo outra vez nos seus olhos e nas suas perguntas, e percebemos
que é o fecho de um ciclo e que no fim das contas as pessoas que serão as
maiores paixões das nossas vidas, o nosso verdadeiro propósito, são eles.
São vocês, filho.