O meu Natal

Teria eu uns 8, 9 anos, e já andava desde o Verão a dizer aos meus pais que para o Natal queria aquela pista de carros telecomandados. Um azul, outro vermelho, para jogar contra o meu irmão e ganhar sempre. A avaliar pelo anúncio na TV, a velocidade era vertiginosa, os carros eram lindos e as possibilidades de diversão pareciam inesgotáveis...

Era, no entanto, pouco provável receber a prenda desejada, apesar da insistência: Os meus pais sempre fizeram questão de nos dar no Natal prendas que fossem, acima de tudo, úteis e (no caso de brinquedos) que parecessem de longa duração - os meus pais nunca se fiaram muito nos anúncios da TV.

Por isso a surpresa foi enorme quando, dessa vez, recebi mesmo a pista de carros. Igualzinha à da TV. Linda e fantástica! Lembro-me de estar realmente feliz nesse dia.

Durou dia e meio, o raio da pista. A partir de certa altura os carros deixaram de andar, um problema electrónico qualquer. Não, não estraguei nada, que quem me conhece da altura sabe que nunca fui de destruir coisas. Era mesmo defeito de fabrico... de tal maneira que a caixa depressa voou de volta da minha mão para a da minha mãe, para "repararem o erro ou mandarem outra nova". Nunca mais.

Não sei se ninguém se lembrou de ir buscar a nova, se a minha mãe percebeu que era mau negócio e pediu devolução do dinheiro, não faço ideia. Sei que nessa altura eu próprio percebi que tinha levado os meus pais a gastar dinheiro num brinquedo parvo que, afinal, funcionava mal e que, convenhamos, quando avariou (um dia depois, relembro) já tinha perdido a piada há muito...

A moral da história? As prendas que recebemos em crianças, o Natal mais ou menos consumista com que crescemos, também ajudam a moldar a nossa personalidade e a forma como cada um vive o Natal para si e para os outros. Eu aprendi, com episódios como este, a valorizar as prendas que me dão pelo tempo em que as pessoas estiveram a pensar em mim e no que eu gostaria de receber.

Sim, para mim este é um bom conceito do Natal - O tempo que gastamos a pensar em que é que podemos contribuir para tornar um bocadinho mais felizes aqueles de quem gostamos...

2 comentários:

Pastilhas Júnior disse...

Concordo em absoluto caro amigo (caro devido à conjuntura que actualmente se vive, denominada, vulgarmente, de crise).
O Natal (não, ainda não escrevo de acordo com o tal) é, a par de outras, uma época de elevado consumismo, de materialismo. Tal como tu, também sempre soube valorizar a intenção e não o presente. De certo modo, deveria ser isso o principal presente.
Mas pronto. (Re)Lendo o teu texto considero então a devolução daquela James Martins 25A que tinha encomendado... ;)
Abraço
(Para relembrar outra "posta" tua, saiu-me a palavra "dessio". E lá está, se tinhas um presente, "dessio" ;))

MJ disse...

Obviamente, estou completamente de acordo. Isso é mesmo o melhor do Natal.