A crise e a restauração

Hoje serviram-me uma posta num restaurante da Régua e a carne não estava boa. O cheiro já não era sugestivo, bastou levar o garfo à boca para perceber que era impossível de comer. Quando me queixei, e pedi que me trouxessem algo, qualquer coisa que tivessem a certeza de que estava bom, fizeram questão de me trazer outra posta. Uma das boas, de qualidade, com um sabor excelente. Era preferível terem escolhido outro prato qualquer, porque assim soube de imediato que tinha sido de propósito. Havia a carne boa, para os clientes habituais, e a outra carne para os outros.

Ontem ao almoço, em Mirandela, a "alheira tradicional" estava indescritível de tão má. Isto num restaurante que, dizem os locais, "até se come bem e o senhor é simpático".

É cada vez mais frequente e torna-se preocupante para quem, como nós, é obrigado a comer fora, muitas vezes em sítios que não conhecemos bem. Têm fechado muitas casas por todo o país e nota-se que cada vez mais há dois tipos de restaurantes:

1) Os bons, que agora são quase de luxo, nos quais se paga sem grande esforço uns 20 euros por pessoa e onde se come sempre bem;
2) Os baratos, que servem diárias. Nestes é garantido que ao almoço a refeição não passa do razoável mas é barata - o pior é ao jantar. Ao jantar cada vez há menos clientes, e como estes restaurantes vão vivendo principalmente dos almoços fazem preços ridículos ao jantar porque aí não há prato do dia. E a qualidade, essa, fica só para os tais clientes habituais, que os desconhecidos comem qualquer coisa. Acredito mesmo que se não tivessem um horário afixado muitos destes restaurantes fechavam depois dos almoços para só voltar a abrir no dia seguinte. E assim sobravam para o jantar de turistas apenas os tais restaurantes "de luxo".

Sim, é compreensível que cada um tente sobreviver como pode, e entre o cliente habitual e o de passagem é natural que se dê preferência a quem dá mais garantias de voltar. Mas será que já chegámos ao ponto em que se tem que escolher entre um e outro, fechando os olhos aos valores mais básicos associados à profissão e à obrigação moral de bem servir qualquer cliente? A verdade é que o comportamento é socialmente condenável e revela uma total falta de profissionalismo. Mas será que nesta fase é este caminho ou fechar as portas de vez?

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