Mãe

A vantagem de passar os 40 anos é que a gente deixa de ter paciência para as falsas modéstias e para o politicamente correto. É mais fácil dizer o que realmente se sente sem medo de ser mal interpretado. Hoje faz anos a mãe, e hoje falo abertamente dela sem falsos moralismos.

Há dias fui encontrar a minha mãe toda atrapalhada com o telemóvel. Tinha colocado uma frase no facebook sem colocar a origem da mesma (em mais um episódio daquela relação amor/ódio que os nossos pais têm com as redes sociais), o que levou a que toda a gente interpretasse como um desabafo pessoal. Isto iniciou imediatamente uma onde de carinho e solidariedade, dezenas de pessoas foram deixar uma palavra amiga naquele "desabafo". O problema da minha mãe, que não é de hoje mas de há décadas, é que ela nunca soube lidar com este carinho das pessoas, nunca achou que o merecesse.

Sempre considerei a minha mãe uma pessoa inteligente e por isso nunca percebi que ela achasse estranho receber de volta todo o carinho que sempre deu a todas as pessoas que se cruzaram com ela. Eu e os meus irmãos passamos a vida a brincar com isso, porque se ela se dedica a 100% a todas as pessoas, de todas as idades, em ambiente pessoal ou profissional, estava à espera de quê? Ódio, desprezo, em troca?

"A tua mãe foi a melhor professora que eu tive na vida", vocês fazem alguma ideia de quantas pessoas que ao longo da vida me disseram isto? Imaginam o que é ser filho da professora Maria João? A herança é pesada e passamos uma vida a tentar estar ao nível da nossa mãe aos olhos das pessoas. Batalha perdida à partida, obviamente.

Tenho para mim que o segredo desta professora foi ter percebido bem cedo que as crianças e jovens, de todas as idades, gostam de ser tratados como gente. É tão simples como isto. Dando a cada criança a devida importância, a devida responsabilidade, ela foi ganhando o respeito dos alunos e com ele o respeito dos pais dos alunos. Assim se conquista uma comunidade sem querer, tendo apenas o objetivo de fazer o seu trabalho da melhor maneira possível.

É óbvio que ninguém pode agradar a toda a gente, nem mesmo a pessoa incrível que a minha mãe sempre foi. Na vida seremos sempre mal interpretados por alguém, e todos nós também cometemos os nossos erros. Mas eu acho honestamente que para a grande maioria das pessoas de Montalegre a minha mãe está no top 10 de melhores pessoas de Montalegre.

E embora lhe custe (tanto!) admiti-lo, ela sabe que as pessoas gostam dela. E sabe bem que o merece, porque passou uma vida a fazer as coisas bem feitas.

Hoje faz 65 anos, diz que atingiu a terceira idade. É só um número, como qualquer outro. Que festeje muitos, porque somos todos um bocadinho mais felizes quando ela está por perto.

9 comentários:

LP disse...

Que grande artigo, meu irmão!
Muito bom, mesmo.

LP disse...

Que grande artigo, meu irmão!
Muito bom, mesmo.

José Miguel Moreira disse...

Bonitas e sinceras palavras. Parabéns Pedreira!

João Nuno Gusmão disse...

Excelente.
Só não concordo com o "Top 10". Para quê tantos, se está mesmo lá no topo...?

Mariana Pedreira disse...

Que bonito! <3

Luisa disse...

Muitos parabéns para essa professora encantadora que eu pude ter no 5* e 6 ano muitas felicidades

Luisa disse...

Muitos parabéns para essa professora encantadora que eu pude ter no 5* e 6 ano muitas felicidades

Luisa disse...

Muitos parabéns para essa professora encantadora que eu pude ter no 5* e 6 ano muitas felicidades

João disse...

Excelente artigo João Pedreira! ��
A D. Maria João é sem qualquer margem de dúvida das melhores pessoas que tive oportunidade de conhecer! Realço ainda o espírito jovem e a palavra certa no momento certo! Como alguém disse, 65 é só um número! Muitos parabéns! �� �� ��
Beijinhos ��