Vivem-se dias difíceis em Beja. O caso macabro do homem que assassinou a família, animais domésticos e tudo o que mexia lá em casa é um choque para qualquer um mas marca de uma forma diferente, mais profunda, a população da pequena cidade alentejana.
É preciso compreender que Beja é uma cidade mas é também uma aldeia grande, em que todos se conhecem, há sempre um primo de um vizinho, um sobrinho que conhece aquele outro, etc. Daí que este caso tenha tido em Beja um impacto mais próximo ao que se sente em situações semelhantes numa aldeia do que numa grande cidade do litoral.
Os especialistas dizem que nestes casos o mais natural é o assassino terminar a "obra" com um suicídio que neste caso não aconteceu. A sua morte mal explicada na prisão leva-me a pensar que os assassinos e criminosos a sério que lá estão não acham grande piada a malta que despacha criancinhas à catanada e depois não tem coragem para se matar a si próprio...
Calhou-me em sorte estar em Beja ontem, precisamente no dia eu que o "suspeito" foi "encontrado morto" na cela, sete horas depois de lá entrar. Claro que tentei desde logo medir o pulso às pessoas, e o resultado é curioso: Prefere-se não falar muito do assunto, talvez porque já tenha sido tudo dito. No restaurante cheio passa a notícia no telejornal e ninguém levanta os olhos para ler, apenas um ou dois e de soslaio. Quando eu pergunto algo recebo respostas monossilábicas, curtas, vagas.
É uma espécie de vergonha colectiva, de mágoa pela perda de elementos de uma grande família às mãos de uma ovelha negra de quem "ninguém podia esperar uma coisa destas" (apesar de lhe terem sido diagnosticados graves problemas psicológicos, de já ter estado preso por roubo, de ser alcoólico, violento e de ter um cancro em fase terminal).
O ambiente é pesado e nota-se que todos querem que o assunto caia rapidamente no esquecimento. Mas a marca na comunidade é indelével...
3 comentários:
Isso é o país real, meu caro... Quande se passam coisas dessas numa cidade grande e mais "cosmopolita", parece que não aconteceu.
Quando ocorre numa aldeia grande, sente-se que foi alguem quase da familia.
É triste haver gente assim! :/
Foi realmente um caso muito muito mau que revoltou quem mora em Beja e um pouco por todos os portugueses!
Sobre isto nem consigo dizer nada...
Enviar um comentário