Que não restem dúvidas. A promoção do 1 de Maio no Pingo Doce foi uma operação de marketing notável. O Dia do Trabalhador foi substituído pelo Dia do Pingo Doce, é a notícia do momento pelos bons e maus motivos, em termos de marketing foi perfeito.
Mas foi também imoral, anti-ético e perigoso. Já há dias referi a concorrência de baixo nível entre Pingo Doce, Continente e Minipreço e o Pingo Doce encarregou-se de bater no fundo. Já não é de hoje (ontem). Sempre me pareceu que o Pingo Doce é efectivamente o que baixa mais o nível quando se trata de concorrência. Basta referir, por exemplo, que abriu um Continente perto de minha casa e 4 dias depois estava a abrir um Pingo Doce a menos de 200m; que há placas para esse mesmo estabelecimento quase em cima do próprio Continente. Que em todos os cartazes do Pingo Doce se orgulham de ali não existirem "Descontos, talões ou promoções" e depois surgirem dias como o de ontem.
A ASAE ainda está a averiguar as questões legais relacionadas com tal promoção, mas é do senso comum que foi, pelo menos, perigoso porque sabemos que os estabelecimentos Pingo Doce não têm as infra-estruturas necessárias para assegurar a segurança e a organização numa situação destas.
Para além disso, é um acto irresponsável na medida em que mostra que, nas circunstâncias actuais, os portugueses estão dispostos a quase tudo. Foi um cenário de triste de ver e que se dispensava. Comprova que neste momento somos apenas marionetas nas mãos dos que realmente "mandam" neste país.
Há dias estive a rever "Blindness", o filme baseado na obra de Saramago "Ensaio sobre a cegueira", em que se tenta prever os comportamentos da sociedade num cenário de cegueira colectiva repentina. O dia de ontem, no Pingo Doce, fez-me lembrar a tese de Saramago.
E pela primeira vez desde que a palavra "austeridade" faz parte do nosso quotidiano, tive medo.
5 comentários:
Já se falou tanto sobre isto que só te faço 2 referências: 1ª grupo Jerónimo martins é composto por fábricas, distribuidores e lojas...baixo consumo, aumento de stocks...grande promoção e a máquina volta a trabalhar em pleno. 2ª dificuldades financeiras da população em geral, dia 1, compras mensais a metade do preço e alguma folga no orçamento mensal. Conclusão: Fornecedor contente, Clientes contentes, concorrência e moralistas angustiados...
Dislike. Porquê imoral e não ético? Vê o que disse o Pedro Ribeiro no blogue dele sobre este assunto, acho bastante mais acertado. Isto sem prejuízo do que vier a ser apurado pela ASAE ou pela AdC quanto a ilícitos anticoncorrenciais e práticas proibidas de mercado. Talvez se venha a concluir que imorais e anti-éticos são os preços dos outros dias...
Margarida, desculpa mas mantenho. Claro que quando falo de imoral também me refiro à imoralidade inerente a manterem margem de lucro com uma redução de 50%, o que significa que a margem de lucro "normal" é obscena.
Agora, não acredito que tenhas gostado de estar 2h numa fila ou de ter visto na televisão o triste espectáculo a que assistimos...
Já tinha lido (leio sempre) o que o Pedro Ribeiro escreveu, gosto muito da maneira como ele escreve mas nem sempre concordo com ele.
Prefiro a teoria do Saramago do que o apontar o dedo ao civismo (ou à falta dele) das pessoas. Para mim, a culpa não é do cliente...
Eu concordo com a Margarida e com o Pedro Ribeiro. Tb me parece que o problema não está na marca nem na promoção. Isso é marketing e têm direito a ele. O problema está claramente na falta de civismo das pessoas. E não é o ir às compras só porque há 50% de desconto. É o tornar as compras num acto de loucura e agir como se o mundo acabasse amanhã (ou hoje! lol). Podiam, sim, ir todos as compras com calma e civismo e ninguém sairia prejudicado (podiam não levar aquele pacote de leite ou aquelas bolachas, mas não me parece importante pró caso). Acho que o que podemos apontar ao Pingo Doce é o fazer essa promoção só porque se pediu a nível nacional que ninguém lá fosse nesse dia (isso sim é baixo!), mas noutra situação parecia-me perfeitamente aceitável.
As únicas pessoas de quem tenho realmente pena é daquelas (principalmente as mais idosas), que, tal como o nosso avô fazia todos os dias, iam às compras ontem na maior das calmas ao seu 'sítio do costume', sem saber do raio da promoção e que terão levado por tabela. Sabe Deus como terão ficado. Mas pronto.
Em grande, Mariana! Mas, defacto, este país está a começar a assustar-me...
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