Com
tantas compras e talões espalhados pela casa, um sujeito começa a
pensar em coisas estranhas e pouco natalícias, como, por exemplo, a
diferença entre recibo e factura. Por que razão os recibos do Pingo Doce e Continente não servem de factura?
Mesmo que compre apenas um pacotinho de fraldas, um sujeito leva para
casa um recibo que tem, à vontade, dois palmos. Parece bula de remédio.
Mas, no meio de todas aquelas letras, só há uma coisa que interessa:
"não serve de factura". Para termos factura, é preciso pedir à menina e
dar dados logo ali. Como se percebe facilmente, este processo é demorado
e acaba por prolongar o tempo de espera das pessoas que estão na fila
atrás de nós - um factor dissuasor que leva muita gente a não pedir
factura.
Ora, três perguntas. Primeira: em muitas lojas
pequenas, o recibo-é-a-factura e tem lá os espaços em branco para a
malta preencher em casa sem ninguém a espreitar pelo ombro. Se uma
pequena loja consegue esta proeza, por que razão as grandes cadeias de
supermercados não conseguem operar com este sistema? Segunda pergunta: como é que se calcula os impostos a pagar por Pingo Doce e Continente? Por
alto? Por estimativa? Se o registo naquela caixa registadora não serve
para os meus impostos, servirá para os impostos do Eng. Belmiro? Se a
resposta for sim, por que razão a caixa não dá logo factura? Terceira pergunta: se
o governo está empenhado na transparência fiscal, por que razão ainda
não acabou com esta patética diferença entre recibo e factura?"
Henrique Raposo in Expresso, 26-12-2012
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