O fenómeno Berg

Não é invenção portuguesa. Faz parte do formato internacional de todos os programas do género (Ídolos, Operação Triunfo, Factor X, etc) existir uma primeira fase de selecção, que não passa na televisão, e que tem como principal objectivo eliminar à partida candidatos que não interessam ao programa. Curiosamente (ou talvez não), estes candidatos eliminados à partida não são apenas os que cantam extremamente mal - normalmente são também os que cantam extremamente bem. Se pensarmos bem, é evidente: Malta com formação musical não interessa a um programa que tem concorrentes-tipo bem definidos, ou seja, jovens com algum talento, boa imagem, história de vida dramática, margem de progressão.

São as regras do jogo e quem concorre tem que aceitar, pois estamos a falar de um programa de televisão. É frequente dizer-se a alguém "Eh pá, tu cantas mesmo bem, devias concorrer ao [Ídolos, Factor X, Operação Triunfo]" quando a fórmula correcta é "Eh pá, tu até cantas mais ou menos, tens uma imagem interessante e/ou uma história de vida complicada, devias concorrer ao [Ídolos, Factor X, Operação Triunfo]".

É fora deste contexto que aparece o Berg. Teófilo Sonnemberg, ilustre desconhecido, já trabalha em música em Portugal há vários anos (ora vão lá ouvir a "Princesa" do Boss AC com atenção...), tendo participado em projectos de vários músicos nacionais de renome, sempre num papel secundário. Um músico, portanto, dos pés à cabeça. Como é natural, fez um casting perfeito, e é impossível para um júri, qualquer júri, reprovar um cantor destes quando ele aparece no palco.

Pois, a questão é essa: Como é que o deixaram escapar para o palco? Não foi um engano ou um acto inocente naquele "primeiro casting", certamente. Suponho que, de tantos amigos que o Berg foi fazendo ao longo dos anos no mundo da música, algum tenha finalmente decidido ser o padrinho que o Berg, infelizmente, nunca tinha tido. Porque ele é evidentemente um caso à parte neste programa.
Bastou este casting para o Berg. Mostrou-se, parece ser um tipo impecável, canta incrivelmente bem e esta montra vai-lhe permitir dar o salto que faltava - e ainda bem para ele e para todos os que gostam de bons músicos portugueses.

Resta um problema para resolver no programa - como evitar que o Berg vença? Se estão à espera de um deslize, esqueçam. Se o colocam nas mãos do público, já ganhou. Se o expulsarem, quem fica (muito) mal na fotografia é o júri.

Logo, o Berg já ganhou, e o Factor X terminou no momento em que o deixaram pisar aquele palco. Porque ele é um cantor, dos bons, e todos os outros são aspirantes.

1 comentário:

MJ disse...

Pois! Nem sei muito bem o que pensar. Como é que este fabuloso sujeito esteve escondido tanto tempo?????