Filmes... em série!

Zero Dark Thirty foi, para mim, a maior surpresa da temporada pela positiva. Estava à espera de algo demasiado documentado, em toada lenta e desinteressante, e a verdade é que Kathryn Bigelow consegue o inverso. Baseado em factos reais, sobre a caça e captura de Osama Bin Laden, o filme não podia deixar de ser controverso a vários niveis. Das (falsas?) cenas de tortura à forma (depreciativa?) como são retratados os muçulmanos, quase tudo serviu para criticar um filme que aborda um dos temas mais sensíveis para os americanos e para o mundo ocidental em geral. Imune a tudo isto, Zero Dark Thirty emerge como um dos melhores filmes da temporada pelo ritmo, o argumento e o interesse que desperta no espectador do princípio ao fim - apesar de já todos saberem como acaba...

Para Django Unchained a expectativa era enorme: Mais um clássico instantâneo de Tarantino, divertido, daqueles que só ele sabe cozinhar. E não desilude, pois claro. Um elenco extraordinário que dá vida a personagens incríveis do imaginário do realizador, uma banda sonora perfeita e um argumento daqueles a que Tarantino já nos habituou e que muitos tentam mas ninguém consegue copiar. Não é o melhor dele, na minha lista de filmes de Tarantino aparece até num quarto ou quinto lugar. Mesmo assim, é muito melhor do que a maioria do que por aí se faz...

The Master é uma desilusão. Depois de There Will Be Blood esperava-se muito da genialidade de Paul Thomas Anderson, mas este perde-se nos labirintos do seu próprio cérebro e traz-nos obras como este filme que em vários momentos parece que vai crescer mas nunca passa de uma mediania entediante numa história interminável sobre não se sabe ao certo o quê. Os desempenhos de Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman acabam por ser o mais interessante de um filme que não me deixa saudades.

Outro filme assim-assim é The Flight, com o incontornável Denzel Washington. As nomeações para argumento e melhor actor davam a entender que haveria algo de diferente aqui, mas não é o caso. Denzel está bem, mas Denzel está sempre bem. Dá sempre a sensação de que já o vimos neste papel uma mão-cheia de vezes noutros filmes, não se descobre nada neste The Flight que o diferencie dos outros filmes de acção tão típicos em que o actor costuma brilhar. Vê-se bem, claro, mas pouco mais.

Beasts of the Southern Wild é a grande surpresa nas nomeações aos Oscars de 2013. É a primeira longa-metragem de um jovem realizador, não tem qualquer actor profissional no elenco e foi feito com um orçamento muito curto. A partir daqui, um filme minimamente decente já seria uma vitória! Mas Beasts é mais do que isso: Aproveitando ao máximo os recursos, é de uma simplicidade e de uma honestidade desarmantes, é inteligente e perspicaz. O mundo pelos olhos de uma criança, a vida através da pureza de um jovem coração. Sem ser fantástico, é uma bela surpresa e deixa um sorriso nos lábios até dos mais cépticos.

E por fim, Lincoln. O filme com mais nomeações para os Oscars acabou por ser o último que vimos. E é o que tem mais" matéria de Oscar", no fundo. Começa por ter o melhor actor vivo (Daniel-Day Lewis) num desempenho assombroso como Abraham Lincoln, a viver o drama de ter que escolher entre o final de uma Guerra Civil e a aprovação da emenda que finalmente viria a abolir definitivamente a escravatura. Juntando a isto um dos realizadores mais aclamados de Hollywood (Spielberg), uma banda sonora à altura e um argumento leve e facilmente perceptível, Lincoln é um daqueles que serão lembrados, vistos e revistos por muitos anos. É muito bom, sem dúvida. O melhor? Talvez...


1 comentário:

LP disse...

Bela crítica, meu caro.