Música

11:30 da manhã, pausa para o cigarro. À porta da empresa, um jovem com uns bons 75 anos envergava calções bem curtos, meias pretas pelo joelho, sapatilhas, boné e óculos de sol. Tinha mochila às costas e tocava alegremente (e mal, muito mal) uma harmónica. Mais um pedinte, pensámos. Mas o seu comportamento era diferente. Dava voltas sobre si próprio, tocava para as pessoas que passavam, para os carros, tocava para si. Tocava sem pedir nada em troca, com uma alegria contagiante.

Quando o autocarro surgiu no cimo da rua e ele libertou uma das mãos para fazer sinal de paragem percebi finalmente que estava apenas a aproveitar o tempo de espera, não com um telemóvel, um PDA, um jornal ou um portátil mas com a sua harmónica.

Ainda pensei que seria um daqueles tipos que vão no autocarro a chatear tudo e todos com a sua alegria desmedida, mas nem isso - antes de entrar inventou um grande final para a sua canção de improviso com dois acordes prolongados e, posto isto, colocou o pé no degrau para subir.

Desculpem lá, senhores Timbalands, mas ISTO é que é música.No seu estado orgânico, primário, puro. Música que se sente, mais do que se ouve.

Às vezes tenho pena que a evolução tenha apanhado a música no caminho...

1 comentário:

RRITA disse...

"São tantas as coisas que alteram o nosso estado de espírito e tão poucas as que podemos controlar"

Foi definitivamente um cigarro feliz ;)