Não é novo, mas é daqueles pensamentos que vale sempre a pena relembrar. Woody Allen, sobre como gostaria de viver uma hipotética próxima vida:
Na minha próxima vida, quero viver de trás para frente.
Começar morto, para despachar logo o assunto.
Depois, acordar num lar de idosos e ir-me sentindo melhor a cada dia que passa.
Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a reforma e começar a trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia.
Trabalhar 40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável, até ser jovem o suficiente para entrar na faculdade, embebedar-me diariamente e ser bastante promíscuo.
E depois, estar pronto para o secundário e para o primário, antes de me tornar criança e só brincar, sem responsabilidades. Aí torno-me um bébé inocente até nascer.
Por fim, passo nove meses flutuando num spa de luxo, com aquecimento central, serviço de quarto à disposição e com um espaço maior por cada dia que passa, e depois voilà - desapareço num orgasmo.
Redenção - V de V
Ainda ofegante, Paulo trancou a porta atrás de si mesmo sabendo que aquela gente conseguia arrombar uma porta em menos de nada. Não compreendia o que tinha visto. Não sabia se tinha alguma relação com o seu caso ou se tinha estado mais uma vez no local errado à hora errada. Estava em pânico e ainda não sabia se o alemão estava a caminho ou se o estranho casal se iria aperceber do erro e arrombar a sua porta a qualquer momento. Olhou pela janela, estava a amanhecer. Mas não se sentia seguro e temia por Tomás. Não podia conceber a ideia de ver o filho ser torturado pelo alemão ou por aquele casal louco. Era também demasiado arriscado tentar sair com o miúdo, por isso tomou uma decisão.
Acordou Tomás e levou-o para a varanda. O filho estava possuído pelo sono, nem sabia bem onde estava, mas Paulo não tinha tempo para explicações:
- "Filho, confias em mim?"
- "Sim, pai"
- "O Pai vai sair e tu ficas aqui na varanda. Não entres em casa, mas fica sempre a olhar para a porta da rua e lá para baixo. Quando vires o pai lá em baixo, podes entrar na sala e esperar por mim. Mas se por acaso não vires o pai e vires a porta de casa a abrir, não hesites e salta da varanda. Salta com força, para a piscina. Prometes?"
- "Mas pai, eu não sei se consigo chegar à piscina..."
- "Consegues, filho. Salta com muita força!"
- "Mas está tudo bem, pai? O que se passa???"
- "Não posso explicar agora, mas vai correr tudo bem. Quando me vires lá em baixo volta para casa e espera por mim, ok? Só isso..."
- "Combinado, pai..."
Paulo sabia que era praticamente impossível o miúdo chegar à piscina caso tivesse que saltar. Mas era um mal menor, se tivesse que saltar podia partir apenas uma perna ou um braço, melhor do que ser torturado por um bando de doidos... deixou Tomás na varanda e saiu da casa, fechando a porta. Ia ver se havia perigo, se o caminho estava livre, se podia pegar no filho e fugir para a esquadra mais próxima.
A porta de casa de Roberto estava fechada, sem sinais de entrada forçada. Dir-se-ia que nada tinha acontecido ali há breves momentos. Paulo abriu a porta da escada de serviço e desceu lentamente, andar após andar, sempre munido da faca de cozinha. Ao chegar ao rés-do-chão,a porta estava trancada - não tinha como sair do edifício. Paulo pensou como é que aquele casal teria entrado se a porta estava trancada. Lembrou-se que o porteiro só abria as portas às oito da manhã e que ele próprio tinha uma chave em casa.
Foi então que decidiu subir e abrir a porta de casa lentamente para avisar Tomás que estava tudo bem. Ao chegar ao apartamento abriu a porta com todos os cuidados e quando esticou a cabeça para avisar Tomás já só conseguiu ver as pernas do filho que tinha acabado de saltar do sétimo andar.
Tomás mergulhou desajeitado na piscina e sentiu a água fria a percorrer-lhe o corpo enquanto pensava "consegui mergulhar!". Andava na natação e já sabia o suficiente para se deslocar até à borda mais próxima. Preocupado, olhou para cima para ver quem tinha afinal entrado na casa deles. Quando avistou o pai, lívido, debruçado na varanda, acenou feliz e gritou: "Papá, consegui mergulhar na água!!". Viu o pai sorrir aliviado e tentar uma resposta que nunca chegou porque um alemão com o cabelo loiro impecavelmente penteado e uma cicatriz na testa se aproximou por trás dele e lhe cortou a garganta com um só golpe.
Acordou Tomás e levou-o para a varanda. O filho estava possuído pelo sono, nem sabia bem onde estava, mas Paulo não tinha tempo para explicações:
- "Filho, confias em mim?"
- "Sim, pai"
- "O Pai vai sair e tu ficas aqui na varanda. Não entres em casa, mas fica sempre a olhar para a porta da rua e lá para baixo. Quando vires o pai lá em baixo, podes entrar na sala e esperar por mim. Mas se por acaso não vires o pai e vires a porta de casa a abrir, não hesites e salta da varanda. Salta com força, para a piscina. Prometes?"
- "Mas pai, eu não sei se consigo chegar à piscina..."
- "Consegues, filho. Salta com muita força!"
- "Mas está tudo bem, pai? O que se passa???"
- "Não posso explicar agora, mas vai correr tudo bem. Quando me vires lá em baixo volta para casa e espera por mim, ok? Só isso..."
- "Combinado, pai..."
Paulo sabia que era praticamente impossível o miúdo chegar à piscina caso tivesse que saltar. Mas era um mal menor, se tivesse que saltar podia partir apenas uma perna ou um braço, melhor do que ser torturado por um bando de doidos... deixou Tomás na varanda e saiu da casa, fechando a porta. Ia ver se havia perigo, se o caminho estava livre, se podia pegar no filho e fugir para a esquadra mais próxima.
A porta de casa de Roberto estava fechada, sem sinais de entrada forçada. Dir-se-ia que nada tinha acontecido ali há breves momentos. Paulo abriu a porta da escada de serviço e desceu lentamente, andar após andar, sempre munido da faca de cozinha. Ao chegar ao rés-do-chão,a porta estava trancada - não tinha como sair do edifício. Paulo pensou como é que aquele casal teria entrado se a porta estava trancada. Lembrou-se que o porteiro só abria as portas às oito da manhã e que ele próprio tinha uma chave em casa.
Foi então que decidiu subir e abrir a porta de casa lentamente para avisar Tomás que estava tudo bem. Ao chegar ao apartamento abriu a porta com todos os cuidados e quando esticou a cabeça para avisar Tomás já só conseguiu ver as pernas do filho que tinha acabado de saltar do sétimo andar.
Tomás mergulhou desajeitado na piscina e sentiu a água fria a percorrer-lhe o corpo enquanto pensava "consegui mergulhar!". Andava na natação e já sabia o suficiente para se deslocar até à borda mais próxima. Preocupado, olhou para cima para ver quem tinha afinal entrado na casa deles. Quando avistou o pai, lívido, debruçado na varanda, acenou feliz e gritou: "Papá, consegui mergulhar na água!!". Viu o pai sorrir aliviado e tentar uma resposta que nunca chegou porque um alemão com o cabelo loiro impecavelmente penteado e uma cicatriz na testa se aproximou por trás dele e lhe cortou a garganta com um só golpe.
Redenção - IV de V
O esconderijo de Paulo era perfeito. Era impossível alguém o ver e dali conseguia ver perfeitamente a porta do elevador e as portas de ambas as casas. Foi dali que viu sair não o alemão, mas duas pessoas: um indivíduo alto e forte, todo vestido de preto, e uma jovem absolutamente linda, apenas vestida de lingerie e com um roupão transparente. Paulo estava confuso com este cenário e ainda mais ficou quando ambos se dirigiram ao apartamento em frente ao dele.
No sétimo direito morava o Roberto, um tipo solteirão e bon-vivant, simpático no elevador e sempre bem acompanhado por raparigas bonitas. Paulo lembrava-se de pensar várias vezes que gostava de ter a vida de Roberto.
O estranho casal forçou facilmente a entrada no apartamento de Roberto. Entraram rapidamente, um após o outro, e deixaram a porta escancarada. Confuso, Paulo pensou que nada daquilo tinha a ver consigo, que seria algum fetiche ou uma festa privada em casa do vizinho. Mas... e se não fosse esse o caso? E se o casal tivesse sido enviado pelo alemão e se tivesse enganado no apartamento? A curiosidade impediu Paulo de voltar para trás e, ao invés, empurrou-o para a porta de casa do vizinho.
Avançando apenas dois passos em casa de Roberto, Paulo ficou mais uma vez numa posição privilegiada. Via o quadro todo: A mulher, na sala, em pose sensual e o acompanhante escondido atrás da porta. Conseguiu ver também perfeitamente a entrada de Roberto na sala, embriagado com o sono e surpreso por encontrar aquela beldade. A surpresa rapidamente deu lugar à excitação, pois a jovem começou a provocar Roberto de tal maneira que este pareceu nem se importar com a estranheza de toda a situação, evidenciando uma imponente erecção em resposta às provocações da jovem. Esta murmurava repetidamente algo que Roberto não conseguia ouvir. Quando Roberto se conseguiu encostar à sua face percebeu finalmente o que ela dizia: "Adição... adição... adição".
É neste momento que o acompanhante surge na sala e, com um rápido golpe de faca, corta pela base o pénis erecto de Roberto. O grito de dor do vizinho foi como um despertador para Paulo. Combatendo a tentação de gritar, correu para o seu apartamento ouvindo ainda atrás de si a voz da jovem, agora a gritar com uma voz estridente: "Subtracção!!!"
No sétimo direito morava o Roberto, um tipo solteirão e bon-vivant, simpático no elevador e sempre bem acompanhado por raparigas bonitas. Paulo lembrava-se de pensar várias vezes que gostava de ter a vida de Roberto.
O estranho casal forçou facilmente a entrada no apartamento de Roberto. Entraram rapidamente, um após o outro, e deixaram a porta escancarada. Confuso, Paulo pensou que nada daquilo tinha a ver consigo, que seria algum fetiche ou uma festa privada em casa do vizinho. Mas... e se não fosse esse o caso? E se o casal tivesse sido enviado pelo alemão e se tivesse enganado no apartamento? A curiosidade impediu Paulo de voltar para trás e, ao invés, empurrou-o para a porta de casa do vizinho.
Avançando apenas dois passos em casa de Roberto, Paulo ficou mais uma vez numa posição privilegiada. Via o quadro todo: A mulher, na sala, em pose sensual e o acompanhante escondido atrás da porta. Conseguiu ver também perfeitamente a entrada de Roberto na sala, embriagado com o sono e surpreso por encontrar aquela beldade. A surpresa rapidamente deu lugar à excitação, pois a jovem começou a provocar Roberto de tal maneira que este pareceu nem se importar com a estranheza de toda a situação, evidenciando uma imponente erecção em resposta às provocações da jovem. Esta murmurava repetidamente algo que Roberto não conseguia ouvir. Quando Roberto se conseguiu encostar à sua face percebeu finalmente o que ela dizia: "Adição... adição... adição".
É neste momento que o acompanhante surge na sala e, com um rápido golpe de faca, corta pela base o pénis erecto de Roberto. O grito de dor do vizinho foi como um despertador para Paulo. Combatendo a tentação de gritar, correu para o seu apartamento ouvindo ainda atrás de si a voz da jovem, agora a gritar com uma voz estridente: "Subtracção!!!"
Redenção - III de V
Foi só quando a chamada terminou que Paulo caiu em si e começou a pensar seriamente na gravidade da situação. Tinha passado cinco anos a pensar numa vingança que não saberia como executar. Paulo nunca tinha disparado uma arma, nunca tinha entrado sequer numa luta com ninguém. Era um tipo demasiado normal para se armar em herói, mesmo sentindo-se injustiçado. E tinha medo, afinal. Todos os sonhos com o alemão, todas as imagens que tinha dele não eram mais do que um espelho do medo que havia sentido naquele fatídico dia - o dia em que não morreu por acaso, porque o alemão não quis. Mas agora, graças à sua reacção espontânea, o alemão estava a caminho para tratar desse assunto pendente.
O pânico apoderou-se de Paulo. Apercebeu-se de que não sabia nada: Onde estava o alemão, quanto tempo demoraria a chegar? Dias? Horas? Minutos? E o que fazer com Tomás, que dormia no quarto ao lado? Olhou para o relógio: Eram seis da manhã, quase dia. Talvez o alemão não viesse esta noite, o dia é sempre melhor e dá tempo para levar o Tomás para um local seguro, para ir à polícia. Tentou em vão encontrar algo com que se pudesse defender. O melhor que encontrou foi uma faca larga de cozinha à qual se agarrou enquanto encostava o ouvido à porta do apartamento.
Só então se lembrou de ligar à polícia. Sentiu-se imediatamente ridículo por só agora ter pensado nisto. E no preciso momento em que pegou no telemóvel para ligar, ouviu o ruído do elevador a subir.
O coração gelou-lhe, e de repente percebeu que tinha que tomar uma atitude imediata. Tinha que ter uma vantagem, que só poderia ser o factor surpresa. Encheu-se de coragem, saiu e foi-se posicionar num pequeno vão entre as duas portas dos apartamentos do sétimo andar. "Aqui estou oculto", pensou. "E assim que ele entrar no meu apartamento vou por trás e mato-o. Justa causa, invasão de propriedade, tudo certo". O coração de Paulo parecia querer saltar pela boca.
E a sua intuição estava certa: o elevador anunciou com um pequeno toque a chegada ao sétimo andar e as portas abriram-se.
O pânico apoderou-se de Paulo. Apercebeu-se de que não sabia nada: Onde estava o alemão, quanto tempo demoraria a chegar? Dias? Horas? Minutos? E o que fazer com Tomás, que dormia no quarto ao lado? Olhou para o relógio: Eram seis da manhã, quase dia. Talvez o alemão não viesse esta noite, o dia é sempre melhor e dá tempo para levar o Tomás para um local seguro, para ir à polícia. Tentou em vão encontrar algo com que se pudesse defender. O melhor que encontrou foi uma faca larga de cozinha à qual se agarrou enquanto encostava o ouvido à porta do apartamento.
Só então se lembrou de ligar à polícia. Sentiu-se imediatamente ridículo por só agora ter pensado nisto. E no preciso momento em que pegou no telemóvel para ligar, ouviu o ruído do elevador a subir.
O coração gelou-lhe, e de repente percebeu que tinha que tomar uma atitude imediata. Tinha que ter uma vantagem, que só poderia ser o factor surpresa. Encheu-se de coragem, saiu e foi-se posicionar num pequeno vão entre as duas portas dos apartamentos do sétimo andar. "Aqui estou oculto", pensou. "E assim que ele entrar no meu apartamento vou por trás e mato-o. Justa causa, invasão de propriedade, tudo certo". O coração de Paulo parecia querer saltar pela boca.
E a sua intuição estava certa: o elevador anunciou com um pequeno toque a chegada ao sétimo andar e as portas abriram-se.
Redenção - II de V
Tomás recebeu o pai com uma euforia desmedida. Se havia algo em que Vânia nunca tinha falhado, tinha sido nas visitas de Tomás ao pai na prisão. Apesar da distância sentiam-se muito próximos, e era por demais evidente que Tomás gostava muito mais do pai do que da mãe. Aos seis anos já sabia bem com quem gostava de estar, e mudar-se de malas e bagagens para casa do pai era tudo o que ele mais queria.
Paulo morava num T3 com varanda, sétimo andar de um dos quatro prédios de um condomínio fechado com uma enorme piscina no centro. Tomás adorava a sua nova casa, tinha um quarto só para si e montes de jogos de computador para jogar com o pai e com amigos. Ele e Paulo passavam horas a jogar, a brincar, a dar mergulhos na piscina. Mas quando Tomás adormecia caía a noite, voltava na mente de Paulo a imagem do alemão, claríssima, com aquele sobretudo preto, o cabelo loiro impecavelmente penteado e a cicatriz na testa. Paulo não sabia como o encontrar, não fazia ideia por onde começar. Em todo aquele tempo tinha chegado à conclusão apenas que talvez fosse boa ideia consultar os registos do SEF e da Embaixada da Alemanha. Mas não foi preciso nada disto.
Numa destas noites, cerca de três semanas após Paulo sair em liberdade, o telefone tocou e Paulo soube de imediato que era o alemão do lado de lá da linha.
Trémulo, atendeu mas não conseguiu articular qualquer palavra. Após breves segundos, o alemão falou, com um sotaque carregado: "Fui o responsável pela tua libertação, pois também eu fui responsável pela tua prisão. Tenho pena de não o ter conseguido mais cedo, mas espero que ainda vás a tempo de encontrar o teu caminho e ser feliz. Essa criança merece-o e tu também. É parecido contigo."
A referência a Tomás fez Paulo estremecer profundamente. Encarou-a como uma ameaça que juntou ao desejo antigo de vingança e, sem hesitar, respondeu num tom nervoso mas firme: "Se pensas que te perdoo, estás enganado. Vou-me vingar de ti, nem que seja a última coisa que faço. E se tocas num fio de cabelo do meu filho, a minha vingança vai ser lenta e dolorosa!", Paulo nem sabia bem de onde vinha toda esta raiva. Fez-se um breve silêncio, seguido da fria resposta do lado de lá: "Tu escolheste este caminho. Assim seja. Não precisas de me procurar, eu vou ter contigo."
Paulo morava num T3 com varanda, sétimo andar de um dos quatro prédios de um condomínio fechado com uma enorme piscina no centro. Tomás adorava a sua nova casa, tinha um quarto só para si e montes de jogos de computador para jogar com o pai e com amigos. Ele e Paulo passavam horas a jogar, a brincar, a dar mergulhos na piscina. Mas quando Tomás adormecia caía a noite, voltava na mente de Paulo a imagem do alemão, claríssima, com aquele sobretudo preto, o cabelo loiro impecavelmente penteado e a cicatriz na testa. Paulo não sabia como o encontrar, não fazia ideia por onde começar. Em todo aquele tempo tinha chegado à conclusão apenas que talvez fosse boa ideia consultar os registos do SEF e da Embaixada da Alemanha. Mas não foi preciso nada disto.
Numa destas noites, cerca de três semanas após Paulo sair em liberdade, o telefone tocou e Paulo soube de imediato que era o alemão do lado de lá da linha.
Trémulo, atendeu mas não conseguiu articular qualquer palavra. Após breves segundos, o alemão falou, com um sotaque carregado: "Fui o responsável pela tua libertação, pois também eu fui responsável pela tua prisão. Tenho pena de não o ter conseguido mais cedo, mas espero que ainda vás a tempo de encontrar o teu caminho e ser feliz. Essa criança merece-o e tu também. É parecido contigo."
A referência a Tomás fez Paulo estremecer profundamente. Encarou-a como uma ameaça que juntou ao desejo antigo de vingança e, sem hesitar, respondeu num tom nervoso mas firme: "Se pensas que te perdoo, estás enganado. Vou-me vingar de ti, nem que seja a última coisa que faço. E se tocas num fio de cabelo do meu filho, a minha vingança vai ser lenta e dolorosa!", Paulo nem sabia bem de onde vinha toda esta raiva. Fez-se um breve silêncio, seguido da fria resposta do lado de lá: "Tu escolheste este caminho. Assim seja. Não precisas de me procurar, eu vou ter contigo."
Redenção - I de V
À saída da prisão, Paulo respirou fundo. Acabava de ser libertado sem
qualquer explicação, sem motivo aparente. Ainda faltava imenso tempo
para cumprir os 15 anos a que havia sido condenado por um crime que não
tinha cometido, mas naquele dia disseram-lhe que estava tudo tratado e
que estava livre.
Cinco anos a pensar naquele momento, naquela simples ida ao mercado lá da rua, em que viu o alemão a disparar dois tiros a sangue frio sobre o merceeiro. Sim, ele estava lá e tinha visto tudo. O alemão também o viu a ele, mas saiu sem deixar rastro e Paulo, imóvel com o choque, foi encontrado na cena do crime sem saber explicar o que tinha acontecido. Nunca mais ninguém viu o tal alemão e Paulo era o único suspeito - a morte do merceeiro, figura querida da vila, tinha que ser superiormente punida e em pouco tempo Paulo foi atirado para uma cela.
No primeiro café que encontrou ligou a Vânia para o ir buscar. Sabia que o casamento com Vânia estava há muito perdido, mas era a única ligação que ele ainda tinha com o mundo real e, para além disso, tinha um acordo para cumprir. Vânia nunca quis ser mãe. Tomás foi um acidente, para Paulo um acidente feliz mas para Vânia um fardo pesado demais para suportar. Nos primeiros dias na prisão, Paulo prometeu a Vânia o que podia prometer: que no dia em que saísse, fosse quando fosse, assinava os papéis do divórcio e ficava com a guarda de Tomás.
Vânia chegou, estava linda e feliz. "É natural", pensou Paulo, "É o dia da sua liberdade". Depois de uma breve conversa de circunstância, assinaram os papéis e acordaram que dali a uma semana Paulo iria buscar Tomás para ficar definitivamente com ele. Paulo não ouvia a conversa de Vânia, tinha apenas duas coisas na cabeça: As saudades de Tomás e o desejo de vingança.
Cinco anos a pensar naquele momento, naquela simples ida ao mercado lá da rua, em que viu o alemão a disparar dois tiros a sangue frio sobre o merceeiro. Sim, ele estava lá e tinha visto tudo. O alemão também o viu a ele, mas saiu sem deixar rastro e Paulo, imóvel com o choque, foi encontrado na cena do crime sem saber explicar o que tinha acontecido. Nunca mais ninguém viu o tal alemão e Paulo era o único suspeito - a morte do merceeiro, figura querida da vila, tinha que ser superiormente punida e em pouco tempo Paulo foi atirado para uma cela.
No primeiro café que encontrou ligou a Vânia para o ir buscar. Sabia que o casamento com Vânia estava há muito perdido, mas era a única ligação que ele ainda tinha com o mundo real e, para além disso, tinha um acordo para cumprir. Vânia nunca quis ser mãe. Tomás foi um acidente, para Paulo um acidente feliz mas para Vânia um fardo pesado demais para suportar. Nos primeiros dias na prisão, Paulo prometeu a Vânia o que podia prometer: que no dia em que saísse, fosse quando fosse, assinava os papéis do divórcio e ficava com a guarda de Tomás.
Vânia chegou, estava linda e feliz. "É natural", pensou Paulo, "É o dia da sua liberdade". Depois de uma breve conversa de circunstância, assinaram os papéis e acordaram que dali a uma semana Paulo iria buscar Tomás para ficar definitivamente com ele. Paulo não ouvia a conversa de Vânia, tinha apenas duas coisas na cabeça: As saudades de Tomás e o desejo de vingança.
Teaser
A inspiração veio com toda a força esta semana. De tal forma que quando acabei de escrever o texto que tinha na cabeça percebi que estava dividido em cinco capítulos.
Assim sendo, esta é a forma que escolhi para começar o mês de Maio: Cinco dias, cinco capítulos do conto "Redenção". Espero que gostem!
Assim sendo, esta é a forma que escolhi para começar o mês de Maio: Cinco dias, cinco capítulos do conto "Redenção". Espero que gostem!
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