Redenção - I de V

À saída da prisão, Paulo respirou fundo. Acabava de ser libertado sem qualquer explicação, sem motivo aparente. Ainda faltava imenso tempo para cumprir os 15 anos a que havia sido condenado por um crime que não tinha cometido, mas naquele dia disseram-lhe que estava tudo tratado e que estava livre.

Cinco anos a pensar naquele momento, naquela simples ida ao mercado lá da rua, em que viu o alemão a disparar dois tiros a sangue frio sobre o merceeiro. Sim, ele estava lá e tinha visto tudo. O alemão também o viu a ele, mas saiu sem deixar rastro e Paulo, imóvel com o choque, foi encontrado na cena do crime sem saber explicar o que tinha acontecido. Nunca mais ninguém viu o tal alemão e Paulo era o único suspeito - a morte do merceeiro, figura querida da vila, tinha que ser superiormente punida e em pouco tempo Paulo foi atirado para uma cela.

No primeiro café que encontrou ligou a Vânia para o ir buscar. Sabia que o casamento com Vânia estava há muito perdido, mas era a única ligação que ele ainda tinha com o mundo real e, para além disso, tinha um acordo para cumprir. Vânia nunca quis ser mãe. Tomás foi um acidente, para Paulo um acidente feliz mas para Vânia um fardo pesado demais para suportar. Nos primeiros dias na prisão, Paulo prometeu a Vânia o que podia prometer: que no dia em que saísse, fosse quando fosse, assinava os papéis do divórcio e ficava com a guarda de Tomás.

Vânia chegou, estava linda e feliz. "É natural", pensou Paulo, "É o dia da sua liberdade". Depois de uma breve conversa de circunstância, assinaram os papéis e acordaram que dali a uma semana Paulo iria buscar Tomás para ficar definitivamente com ele. Paulo não ouvia a conversa de Vânia, tinha apenas duas coisas na cabeça: As saudades de Tomás e o desejo de vingança.

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