Foi só quando a chamada terminou que Paulo caiu em si e começou a pensar seriamente na gravidade da situação. Tinha passado cinco anos a pensar numa vingança que não saberia como executar. Paulo nunca tinha disparado uma arma, nunca tinha entrado sequer numa luta com ninguém. Era um tipo demasiado normal para se armar em herói, mesmo sentindo-se injustiçado. E tinha medo, afinal. Todos os sonhos com o alemão, todas as imagens que tinha dele não eram mais do que um espelho do medo que havia sentido naquele fatídico dia - o dia em que não morreu por acaso, porque o alemão não quis. Mas agora, graças à sua reacção espontânea, o alemão estava a caminho para tratar desse assunto pendente.
O pânico apoderou-se de Paulo. Apercebeu-se de que não sabia nada: Onde estava o alemão, quanto tempo demoraria a chegar? Dias? Horas? Minutos? E o que fazer com Tomás, que dormia no quarto ao lado? Olhou para o relógio: Eram seis da manhã, quase dia. Talvez o alemão não viesse esta noite, o dia é sempre melhor e dá tempo para levar o Tomás para um local seguro, para ir à polícia. Tentou em vão encontrar algo com que se pudesse defender. O melhor que encontrou foi uma faca larga de cozinha à qual se agarrou enquanto encostava o ouvido à porta do apartamento.
Só então se lembrou de ligar à polícia. Sentiu-se imediatamente ridículo por só agora ter pensado nisto. E no preciso momento em que pegou no telemóvel para ligar, ouviu o ruído do elevador a subir.
O coração gelou-lhe, e de repente percebeu que tinha que tomar uma atitude imediata. Tinha que ter uma vantagem, que só poderia ser o factor surpresa. Encheu-se de coragem, saiu e foi-se posicionar num pequeno vão entre as duas portas dos apartamentos do sétimo andar. "Aqui estou oculto", pensou. "E assim que ele entrar no meu apartamento vou por trás e mato-o. Justa causa, invasão de propriedade, tudo certo". O coração de Paulo parecia querer saltar pela boca.
E a sua intuição estava certa: o elevador anunciou com um pequeno toque a chegada ao sétimo andar e as portas abriram-se.
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