Quem está ao meu lado

Tenho uma sorte estranha com o pessoal que se vem pôr ao meu lado. Há dias foi no cinema, quando fui ver o Inglorious Basterds. Tanta cadeira disponível na maior sala do Arrábida Shopping e o tipo que se vem pôr ao pé de mim é o maior histérico de sempre. Tudo bem, é um filme do Tarantino, a sala estava repleta de gente que é fã incondicional e que acima de tudo vem para se divertir – mas há limites. O tipo ria-se nas piadas, ria-se nas mortes, ria-se a meio dos diálogos, ria-se nos momentos de silêncio! E era daqueles que não só se ri muito alto como se ri a olhar para os lados, ficando a 20 cm da cara das pessoas, a ver se a gente se ri com ele. Às tantas está tudo a olhar para a nossa zona e obviamente a pensar que o tipo até veio comigo. Sorte maldita...

Hoje foi no congresso de Fiscalidade Autárquica. Auditório cheio, eu próprio só tive lugar na primeira fila, e logo a seguir vem uma menina com cerca de 250 kg sentar-se na cadeira ao lado. Até aí tudo bem, o problema é que a menina achou que o congresso era uma aula de revisões para um teste qualquer e levou uma mala cheia de livros, folhas, apontamentos e canetas que ia tirando à vez e voltava a enfiar no saco, só para mostrar que tinha aquilo tudo. E mexia no cabelo, na mala, no baton, nos óculos, nos anéis... que stress!!!
Tudo isto me fez lembrar quando há dois anos eu e a minha irmã tivemos a feliz ideia de ir a um casting para um programa de música (cujo nome não deve ser pronunciado – vergonha!) e apanhámos ao nosso lado na fila o dia inteiro aquela moça que estava sempre a dar lás sustenidos para aquecer a voz, a ensaiar Dulce Pontes e Lauryn Hill para ver “qual era o registo que lhe assentava melhor”, chorava de nervos e ria à gargalhada, fazia fitas para as câmaras e fazia amigos na fila só para lhes mostrar que cantava melhor do que eles.

E cheguei à conclusão de que o objectivo desta gente é todo o mesmo. São pessoas que, não estando completamente conscientes do que estão a fazer precisam constantemente de provar a si próprias que estão ali porque aquele é o seu lugar. O tipo do cinema quer mostrar a si e a todos que compreende o universo Tarantino, como a miúda do congresso quer acreditar que a sua presença ali está a ser útil para a sua vida profissional e a jovem cantora de bairro precisa de se convencer a si própria, antes de convencer os outros, de que efectivamente canta bem. Gente insegura, gente perdida...
Tudo isto só para dizer que hoje fui a um congresso. Que chique... :)

4 comentários:

Gustavo disse...

Provavelmente o melhor post que ja colocaste neste teu "tasco"!

Como tal, nao tenho muito mais a dizer, a nao ser que penso exactamente o mesmo!!

Achava é que era o unico...


:)

13@ disse...

adorava saber a opinião do histérico, da menina-baleia e da pseudo-cantora sobre o baixinho que se sentou ao lado deles...

Varandas disse...

13@, se descobrires também os blogs deles pode ser que fiques esclarecida... ;)

Jc disse...

Bom, este post somado ao comentário de 13@ é de facto um momento de pura reflexão!

Grande abraço,

quando vens cá?

JC